É preciso que eu confesse: não resisto a uma empada. Farinha de trigo, óleo de soja, gema de ovo, sal, margarina e recheio. Minha decepção com Portugal foram as empadas que comi por lá.
Foi mais ou menos assim que iniciei a conversa com uma amiga, naquela tarde quente de quinta-feira, janeiro apenas começando, assim como o ano de 2002. Era um dia útil (sempre me pergunto: "útil pra quem?") e a praia não estava muito cheia. Eu estava ali por ainda não ter conseguido emprego após ter me mudado de volta ao Rio. E enquanto nossas sombras iam se acompridando sobre a areia da Prainha, contei a ela o sonho que tivera na noite anterior.
No sonho, eu me deliciava comendo empadas, mas minhas mãos estavam sujas de areia. E embora as empadas fossem ótimas, no limite de se esfarelarem, ao mordê-las mastigava junto os pequenos grânulos de sílica.
Sem pressa, embalados na calma das ondas que quebravam macias, tentávamos decifrar meu sonho, quando um vendedor se aproxima, mesclando-se às nossas sombras, e nos interrompe, vendendo: "empada?". Nos entreolhamos, entre curiosos e espantados, e pedimos duas, rindo.
Pois foi ali, naquele final de tarde, que eu comecei a acreditar que as coisas iriam melhorar. E dei a idéia de irmos passar o final de semana em Búzios. Minha amiga gostou da idéia, pegou o celular e em alguns minutos tínhamos a casa de um conhecido para alugar.
Liguei para outro grande amigo - que me acolheu quando eu não tinha pra onde ir - e convidei-o a passar alguns dias conosco, afinal, amigos também são para os momentos bons, raciocinei. Do outro lado da linha ele me diz que está conversando com um reitor e talvez tenha acabado de conseguir um emprego pra mim. Marcamos de nos encontrar e comemorar o começo dos novos bons tempos na Rua das Pedras.
Chegamos na casa quando já era noite. Ironicamente, ao lado dela havia uma pequena loja. Vendia apenas empadas. E foi um monte delas que devoramos no almoço do dia seguinte.