Leito
Mesmo deitado nessa cama estreita vejo a tinta velha que escorreu até o primeiro azulejo. Nem é preciso me levantar para notar o desleixo na pintura, a camada de poeira que se acumula no desnível da parede. O estrado de metal range ao mísero movimento meu, acompanhando minha respiração ofegante. Esse cheiro de urina e comida barata que entra às lufadas e me sufoca as narinas.
De onde vem essa luminosidade toda, que ainda assim me deixa na penumbra da tarde vazia, eu encostado na parede fria e mal pintada? Grosseiramente pintada, isso me incomoda tanto. E essas pessoas que trajam jalecos azuis rotos e esmaecidos pelo sabão vagabundo. Cismam em me olhar, como se eu fosse um louco. Ora, loucos são os donos dessas gargantas que rasgam impropérios no ar quente deste salão.
3 Comments:
Para tanta beleza, profundidade, criatividade e... nem sei mais. Gostaria de saber de onde vêm tanta inspiração!
Thank you!
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